(...)Não tinha a fama do futebol, mas as pessoas iam muito ver. Que eu me lembre não se pagava, tinha um público, mais ou menos, não era como o futebol, que era uma enchente de gente. O público era de maioria masculino. Tinha o Mário Cunha, ele gostava muito de boxe, ele gostava de fazer rebuliço de boxe, tinha o Sezefredo Paiva, ele gostava de lutar também, ele lutava grande. Tinha uruguaios e brasileiros sim, eles se reuniam né? e ali (Rivera) tinha uma academia de boxe.(...) Às vezes mudava de sede né? Faziam lutas internacionais, claro, às vezes vinha gente do Uruguai lutar, dessas lutas eu não assisti muito, eu tava em Porto Alegre. O Maturino Osório era daqui, de apelido Mondongo, era um lutador popular. Tinha o Sezefredo Paiva, que era de família de alta sociedade lá de Rivera, esses troço e tal, parece que ele lutou com profissional e foi aí que terminou (risos). Tinha aí no Colombo, aí houve luta de boxe, sim, houve, parece que umas lutas, mas esporadicamente, tinha em diversos lugares que eles faziam ringue, depois sim que caiu o esporte era no ano de 32, 33, 34, 35, depois o Mondongo foi para Porto Alegre. (...) A luta com o Maturino, essa eu assisti! Quando inauguraram o ringue Farropilha, alí perto do cais do porto. Quem vinha para inaugurar, era o Primo Carnera, que era campeão mundial de boxe, ele vinha de passagem para Buenos Aires. O Flores da Cunha foi inaugurar o ringue, o General e Governador, eu tava lá no ringue, eu também fui, e fizeram a última luta com o Maturino e o Retamose em homenagem ao General Flores da Cunha. O Retamose era daqui (Uruguai), parece que daí de Tacuarembó, mas era um bom lutador, e o Maturino. Fizeram uma homenagem ao Flores, conterranêo naturalmente do Maturino, porque Flores era daqui não? (risos) E no primeiro ou segundo rond, (risos) O Retamose deu um soco assim, pegou o queixo e o estômago do Maturino, o Maturino largo lá fora. (risos) Terminou a luta! O Maturino era valente, mas, era cheio de coisa para lutar, e até tinha um camisão assim, um chambrão de sêda. Aqui de Rivera, tinha muito aqueles troço de sêda. Tá, se apresentou o Maturino ! E nós todos, os santanenses batendo palma pro Maturino, mas ele lutou de novo, no segundo round, pegô e foi [... ]O Retamose era bom lutador. Quem foi vencer ele foi um rapaz de Pelotas, o Geraldino Oliveira, uma luta! Sim, todo ringue contra o Retamose ! Ele ganhou por pontos do Retamose, mas era valente o Retamose ! Eu me lembro. Tinha o negro Polo Norte, que era um negro também daqui, grandão. Era bom mas não era, assim de garra que nem o Retamose, os outros faziam coisa e ele aguentava, tinha o Juca Tigre, do Rio de Janeiro, vinham todos lutar aí, eu vi todos aí, em Porto Alegre, no Clube Farropilha, no seu auge!
Nas lembranças de Perseverando Santana, o auge do boxe na fronteira retorna em todas as suas luzes. Na foto, o jovem Hermes Walter, que depois criaria seu famoso "cineminha" popular, exibe os dotes de lutador. Publicado em Memorias Boêmias, histórias de uma cidade de fronteira (Edunisc, 2008).
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