terça-feira, 11 de maio de 2010

Antônio Apoitia, a voz das ruas


(...) Muita gente, muita gente passava para cá e para Montevidéu não é? O staff do Jango e do Brizola, deputados federais, aquele Cláudio Braga, um cara que era fantástico, o Amaury Silva, que era meu amigo pessoal, foi Ministro do Trabalho. Ele vinha todos os meses em Rivera. Ele era o lugar tenente do Jango lá em Montevidéu. Aprendi muito com o Jango lá e conheci muito o Jango, fiz amizade com o Jango por intermédio dele. Ele vinha aqui para contatos políticos e eu agendava as coisas. Ele vinha aqui e me avisava, geralmente no Hotel Nuevo. Ele tinha uma lista de coisas pra comprar em Santana, remédios geralmente, e outras coisas. E tinha contatos com o pessoal de São Borja, São Gabriel...e eu contatava as pessoas, fazia o meio de campo. Era meu amigo, gostava dele, eu ia lá bater papo com ele, íamos jantar juntos, em churrascaria, e fiz muita amizade. Era uma figura notável. Ele tinha um restaurante em Montevidéu, o Cangaceiro, que o Jango e uns amigos tinham montado pra ele lá. Em Pocitos ali. E de ministro ele passou a ser chefe de restaurante. E eu ia muito frequentemente a Montevidéu naquela época, estava todo mundo lá, os exilados. E levava recados pra lá, trazia de lá pra cá. Era um menino de recados, vamos dizer assim, e levava remédios do Brasil, que lá não tinha. E produtos brasileiros que os caras pediam. (...) a vida clandestina ensina muitas coisas, a gente vai aprendendo assim a se cuidar né, botava uma roupa, botava um chapéu, aquela coisa, saía para um arrabalde, lá quem sabe aonde, pegava carona por exemplo com um amigo, dava umas voltas para despistar né, soltavam a gente aí, num bairro por exemplo qualquer, depois ficava por lá e depois voltava a pé, saía por um bairro desses qualquer e ia de madrugada. Porque é muito difícil controlar a fronteira, é impossível, né. Eles controlavam a alfândega, determinada rua, mas não há como controlar as pessoas.
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Antônio Apoitia Neto (foto e depoimento), vereador santanense cassado pelo AI5 usava a alcunha de Antônio Almafuerte, na missões de pombo correio ou de auxílio direto aos que buscavam o refúgio uruguaio pela porta da fronteira, em 1964. Recentemente, conversando com o ex-governador Olívio Dutra, ele me lembrava da fundamental militância de Apoitia no sindicato dos bancários de Porto Alegre, nos anos anteriores ao golpe. "Apoitia era conhecido como A Voz das Ruas, porque ficava dias escondido em um sótão que existia no sindicato, à salvo da repressão, convocando os companheiros por um sistema de alto-falantes colocado nas esquinas", revelou Olivio.

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