"Ele estava lá em Rivera, e uns amigos dele, que ele tinha contato com gente da fronteira, ele sempre seguiu fazendo contato, com gente que queria fazer uma contra-revolução, o contra-golpe. E marcaram pra ir encontrar com ele, e deram um nome. Mas ele não conhecia quem era. E aí ele pegou o carro, e eu disse, tu não vai sózinho, tu não sabe quem é...e aí nós fomos. Foi ali perto da Delegacia de Rivera, ali tem uma Igreja, e uma ruazinha que não tem muito movimento. Eu fiquei dentro do auto, ali perto da igreja católica. E ele desceu e foi a pé lá para encontrar essa pessoa. Ele não sabia quem era. E quando ele foi lá encontrar era uma cilada. Tinham cinco, e tentaram pegar ele, e ele era um homem forte, porque nós tínhamos uma chácara, e ele revirava aquelas terras, fazia horta (...) E daí foi quando quiseram prender ele, empurraram ele pra dentro da camionete, duas ou três vezes, e ele dava um pulo, e não conseguiam segurar ele. Ele era muito grande e forte. Da última vez ele disse que já estava dentro, quando ele fincou com o pé no banco, empurrou assim o pé no banco e caiu pra fora. E gritou: - Tão me seqüestrando! Gritou, gritou e ia passando um cara da polícia, que é bem perto a delegacia ali, e disse: É o deputado Burman, tão sequestrando! Porque tinha guarda do Uruguai que cuidavam dele, que iam lá em casa. E quando ele gritou assim, o cara esse era conhecido até nosso, sabe? Era um sargento ali da brigada de Rivera. E viu isso e pegou e veio correndo de revólver e deu um tiro, e eles se assustaram e soltaram o Orlando e correram. E ele ainda deu uns tiros nos pneus do carro. E atiraram o Orlando e tentaram passar por cima do Orlando, que estava caindo assim no lado. Mas ele deu uns tiros e não conseguiram pegar ele. Senão iam matar o Orlando, já tinham matado um antes, uma guria que teve lá em casa. Gente daqui. Era uma guria que tinha vindo de São Paulo, foi se exilar, filha de um médico".
A edição do jornal santanense A Platéia, de 31 de março de 1971, estampava a tentativa de sequestro em Rivera do ex-deputado estadual e ex-prefeito de Ijuí, Beno Orlando Burmann (PDT-RS). Diva Burmann, companheira de Beno no exílio rememora no texto acima a ação dos homens do DOPS gaúcho, em mais uma operação que não distinguia limites territoriais, subscrita pela doutrina de segurança nacional. Publicado em Retratos do Exílio, Solidariedade e Resistência na Fronteira (Edunisc, 2009).
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