[...] os salafrários, vigaristas, que aplicavam golpes, iam para lá e disfarçavam-se de exilados, inimigos da ditadura. Existiram muitos casos desses, muitos, muitos. Era preciso ter muito cuidado. Eles vomitavam um palavreado belicista, super-revolucionário, e na verdade eram provocadores. Eles faziam provocação para parecer uma coisa e tirar proveito disso, pegar dinheiro de alguém lá, do próprio Brizola, ou do Jango, sob o pretexto de voltar. Eu mesmo cheguei a fazer isso, ajudar uma pessoa. O pouco dinheirinho que eu tinha, eu dei para ele fazer uma viagem a Porto Alegre, e no fim era um provocador. Estava lá. Então sempre tinha que se ter muito cuidado a quem oferecer solidariedade. Porque às vezes se estava oferecendo solidariedade para o inimigo. Evidentemente havia solidariedade, eu mesmo fiz o que foi possível. Respondi um inquérito, fui preso e passei o que passei, sob esse pretexto. Não me arrependo, porque é o mínimo que se pode fazer numa situação como essa.Manoel Luiz Coelho (foto), militante do PC do B, exilado na fronteira no início dos anos 70, relembra dos "infiltrados", que atuavam a serviço da ditadura. Publicado originalmente em Retratos do Exílio, solidariedade e resistência na fronteira. (Edunisc, 2009)
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