Jango não tinha apoio em 31 de março. A esquerda não dava mais, não confiava, e quando a gente viu, tava naquele vazio. Porque a expressão do grande capital vamos dizer assim, aparecia nos comandos militares, porque os aparelhos da elite são as tropas, não são? Então fizeram um trabalho muito grande nas tropas, houve um trabalho de estado maior, para cooptar os comandos militares, e não só os militares, mas todos os comandos da sociedade brasileira. Nos comandos militares houve um trabalho estruturado, com tarefas. E conseguiram depois de 1961, cooptar e manipular as elites militares. Eles lançaram tudo, o grande capital liderado pelos americanos fez o possível e o impossível para segurar o Brasil [...] Mas eles contavam que haveria uma resistência. Eu sempre considerei que 15% das forças armadas eram nacionalistas, ou comunistas, ou de esquerda. 15% eram de direita ou filo-americanos, e 70% eram e são funcionários públicos. O que correr e pegar o bastão primeiro comanda o restante. Eles foram mais hábeis, mais capazes, tinham muito dinheiro, e assumiram o comando. Os nossos ficaram esperando uma ordem do Jango. O Jango queria negociar...e a direita não brinca. A direita age. E a direita agiu e assumiu o comando. E o Jango esperava que, uma vez derrubado, fosse para a fazenda ITU, como fez o Getúlio, e de lá voltava como senador. Mas os tempos eram outros. Ele tinha aquela visão de caudilho, mas os tempos internacionalmente eram outros. Ele foi para o Uruguai, e queriam matar ele no Uruguai e terminaram de uma maneira indireta matando mesmo, e isso ainda não está bem esclarecido .
Depoimento de José Wilson da Silva (foto), o chamado Tenente Vermelho, assessor militar de Leonel Brizola no exílio uruguaio, sobre as condições criadas para o golpe civil-militar de 1964. Publicado orinalmente em Retratos do Exílio - solidariedade e resistência na fronteira (Edunisc, 2009).
Nenhum comentário:
Postar um comentário