quarta-feira, 16 de junho de 2010

Lucio Soares Neto, Piu Avanti !

O advogado Lúcio Soares Neto, participava com outros companheiros da manifestação anti-americana, que culminou com a morte de quatro militantes comunistas. No entanto, no enfrentamento com a policia Lúcio foi ferido. Logo após o fim do tumulto, o militante conseguiu atravessar a linha de fronteira, pondo-se a salvo na casa de seu companheiro Chiquinho Cabeda, que vivia do outro lado do Parque Internacional. Mesmo tendo se refugiado com o auxilio do Partido Comunista, por cerca de três anos no território uruguaio, o advogado revoltado com o desencadeamento dos acontecimentos, abandonou os quadros do PCB. Lúcio relembrou as cenas do fatídico dia, como também os desdobramentos políticos daquele período:
"Sim, fomos para rua pintar "Viva a democracia" e "Fora o facismo" que estava em época. A perseguição era muito mais forte, naqueles anos, agora não há perseguição. E nessa época deve-se considerar as contradições que existiam entre a União Soviética, e as contradições do capitalismo que eram agudíssimas, os extremos[...]Na época, o medo era grande, era o povoar de coisas que levavam ao choque e essa foi a época que deu-se isso e conseqüentemente os grupos políticos seguiram o sistema. Realmente eu, após a chacina, eu chamo isso de chacina, eu deixei de militar. Em primeiro lugar, eu fiquei foragido em Rivera, mais ou menos dois ou três anos, sem atravessar para cá, porque se passasse eu seria preso, então passado esse tempo mais ou menos, eu me apresentei, fui ao quartel e me submeti a um julgamento, o juri se fez e eu fui absolvido unanimemente. Os meus advogados de defesa da época, foram o dr. Dorneles e o dr. Guazelli, no ano de 1955 [...] O Uruguai, garantia a segurança, o Uruguai sempre garantiu a segurança das pessoas. Então eu tava num café, no Uruguai, e a polícia passava e ficava olhando e não faziam nada. É isso. E o Brasil sempre respeitou o Uruguai, isso é um aspecto muito interessante. Eu deixei de ser comunista depois da chacina, faz muito tempo, (melancólico) mas sempre me mantive alerta na justiça, Piú Avanti, Piú Avanti! " (...)
Lucio Soares Neto (na foto, com Liane) foi uma das figuras de ponta na organização do movimento operário santanense, em especial após a morte de Santos Soares. Neste depoimento, o brilhante advogado criminalista e político relata os acontecimentos de setembro de 1950. Nos recebeu em 22 de janeiro de 2005, em seu apartamento, poucos meses antes de falecer. Mesmo com a voz debilitada, notava-se a intensidade de sua vitalidade intelectual. Lucio foi um homem que lutou por seus ideais e não se entregou nem mesmo ante a iminência da morte.
Mais sobre Lucio em: Dicionário Ilustrado da Esquerda Gaúcha; e Comunistas Gaúchos; ambos do historiador e jornalista João Batista Marçal, encontráveis nos sebos virtuais e nas boas livrarias, como a Palmarinca e Martins Livreiro, em Porto Alegre.

2 comentários:

  1. Me pergunto:
    - O que leva um homem a desistir de seus sonhos?

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  2. Díficil dizer Nubem, no caso, acredito que tenha tomado essa dolorosa decisão pelos diversos motivos que o reprimiam dentro dos quadros: quem sabe a intolêrancia, o aparato buricrático do partido...a falta de liberdade para a vida pessoal...
    No final,confidenciaria um tipo de "mea culpa" no rumo que a chachina tomou, afinal, como Lúcio mesmo falava, "todos tem direito a uma defesa justa"
    Liane

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