sábado, 30 de outubro de 2010

Semana Árabe em Imagens

Martha Chalella, Liane Aseff, Laurence El Tors e filho, Ana Rosa Normey

Jose Maria Almada Sad e Ana Carletti


Lima, Zohra e Adib El Hanini, Fábio Regio Bento, Ana Carletti, Mohamad e Jamile El Hanini


Liane Aseff e Renato Costa


Zohra El Hanini e Patrícia Cossio Chaves



Liane Aseff e alunos da Unipampa


Ibrahim Al Zaben, embaixador da Palestina no Brasil, entre alunos da Unipampa


Público lotou o auditório da Unipampa


Renato Costa, Ricardo Kotz, Liane Aseff e Jose Maria Almada Sad
Imagens dos eventos que aconteceram no Auditório da Unipampa - Universidade Federal do Pampa, durante a Semana da Cultura Árabe, que aconteceu em Santana do Livramento (RS), de 25 a 28 de outubro. (clique nas imagens para ampliar)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Caminhos da solidariedade: permanências e passagens da cultura árabe na fronteira.

A presença da comunidade árabe sírio, libanesa e palestina na fronteira pode ser traduzida como um mundo constituído através da solidariedade, amizade e disposição para integrar-se a novas experiências e lugares. Difere bastante daquele universo apresentado pela literatura ocidental, que mostra o árabe como um ser constantemente bem disposto, afeito ao trabalho, a diversão e ligeiro no troco, como sugere muitas vezes, por exemplo, o escritor Jorge Amado na representação dos árabes, por ele carinhosamente chamado de turcos. Como se sabe, a confusão que tanto desagradou a nação árabe da diáspora tem origem nos passaportes emitidos aos imigrantes pelo Império Turco Otomano que dominava a região que hoje compreende a Síria e o Líbano até 1918. Parece mesmo engraçado, mas conversando recentemente com o escritor catarinense Salim Miguel, descendente de libaneses, ele lembrava que encontrou apenas um turco no Brasil, no estado do Maranhão em mais de 80 anos de vida.

Os imigrantes árabes que chegaram ao Uruguai, já ao desembarcarem no porto de Montevidéu puderam vivenciar a solidariedade de seus pares estabelecidos por aqui. Após uma viajem longa, freqüentemente insalubre e exaustiva, muitos traziam algum tipo de seqüela da travessia do Atlântico. Então, nessa primeira fase da imigração uruguaia e fronteiriça, que vai de 1890 a 1920, aqueles patrícios- ou paisanos, como costumavam ser chamados entre si- que já estavam estabelecidos, faziam o ritual do acolhimento aos irmãos no país desconhecido, fossem sírios, libaneses, ou os raros palestinos e egípcios. O abrigo e orientação nunca lhes foi negado. Recebendo referências sobre a região, a comunidade e algumas palavras do idioma local, os viajantes sentiam-se seguros para dar início a nova jornada na América. Freqüentemente foi essa a trajetória de muitas famílias descendentes de árabes que residem em Rivera e algumas que escolheram Santana do Livramento para morar. Lembro aqui de famílias libanesas da primeira geração como as famílias Posada, Normey, Najas, Curi, Mansur, Aseff, Neme, Figari, Saker e da segunda geração, a família Tarabay. Em Santana, vindas através do porto de Santos, as famílias Salim, Chein, Maluf, Hilal e segunda geração, a família El Tors, Kazzaka, entre outras, que vivenciaram os caminhos dessa solidariedade na fronteira. Em Santana do Livramento, os pioneiros palestinos que chegaram no final dos anos cinquenta foram as famílias Hussein, Abdallah, Bannura, Zaidan, Shueik e a jordaniana, Badra.

O êxito dos pioneiros, de maioria sírio e libaneses pode explicar o estímulo dado ao processo migratório nos anos seguintes. O ingresso oficial de imigrantes no Uruguai registrado pela Dirección General de Imnigración teve início em 1887. Após três anos de funcionamento, em 1890, o órgão já registrava a entrada de 2.020 imigrantes árabes ao país! Embora estivesse em vigor no país uma dura lei de imigração assinada pelo presidente Herrera y Obes que limitava a entrada de “estrangeiros asiáticos, africanos, ciganos, deficientes físicos e bohemios”.
Muitos viajaram clandestinos nos navios e aqueles que conseguiam estabelecer-se costumavam chamar seus parentes e amigos para que também viessem fazer o futuro no Uruguai e na fronteira, formando uma intensa corrente de imigrantes que se estendeu dos anos 1880 até o final da década de 1950. A maioria desses imigrantes chegava de pequenas aldeias camponesas, localizadas nas montanhas do interior da Grande Síria, (atual Líbano), na região denominada Monte Líbano. Nessa primeira fase imigratória, viajavam muito jovens solteiros em busca de uma independência econômica. Aventuravam-se pelo interior da república uruguaia, alguns, em povoados de fronteira tomando a campanha para si, vendendo suas variadas mercadorias, em busca da clientela que o novo ofício exigia. No princípio foram vistos com receio pela população rural, até ganharem confiança e amizade da maioria das famílias da campanha. Sua freguesia principal eram as mulheres e crianças que moravam nas estâncias ou nas vilas próximas a elas. Também foram vítimas de violência, discriminação e difamação, como o episódio acontecido na capital uruguaia em 1923, quando foi publicado um artigo polêmico, escrito por um articulista do jornal La Mañana. O jornalista acusava comerciantes libaneses de esperteza e má fé, e segundo seu relato, suas lojas eram freqüentemente incendiadas e seus proprietários beneficiados com o seguro.

A partir das primeiras décadas do século que vinha à luz, as cidades da fronteira se tornaram alvos novos para a maioria da população estrangeira que chegava às capitais do Prata. Logo a comunidade libanesa estabelecida em Montevidéu soube que Rivera convertera-se em centro aglutinador do comércio e da emergente indústria da carne e do couro. A modernidade havia se instalado na região com a introdução de serviços que favoreciam o franco desenvolvimento daquela comunidade do interior da república, com significativos atrativos para os novos moradores. A industrialização, por sua vez, agregou grande desenvolvimento cultural e econômico para a região. Inicialmente, as charqueadas, depois os frigoríficos estrangeiros excederam a mão de obra de trabalhadores locais, abrindo frentes para operários capacitados, como os imigrantes espanhóis, italianos e libaneses. Porém, se os europeus buscavam trabalhos sazonais nas indústrias, os árabes preferiam a autonomia da atividade varejista, baseada na informalidade. A maioria dos entrevistados nesta pesquisa se utilizaram da expressão liberdade para justificar sua escolha pelo cotidiano do comércio ambulante, mesmo sob condições de insegurança e intempérie.
Em Rivera, o comércio da rua central era dominado pelos espanhóis e italianos. Atravessar a fronteira e obter mercadorias sob baixos impostos era um atrativo para muitos comerciantes de cidades próximas. Aos imigrantes abria-se também a possibilidade de uma fiel clientela binacional, devido a constante instabilidade cambial e a economia pendular, característica da região. A comunidade libanesa estabeleceu-se na calle Brasil, próxima ao Ferro Carril, onde havia constante fluxo de pessoas, diligências, carroças. Os comerciantes árabes perceberam ali a grande oportunidade de vender suas mercadorias para a população local, que vinha tanto da cidade como do interior. Os jovens imigrantes que desembarcavam na ferroviária logo percebiam nos arredores um auspicioso núcleo comercial. Aquela via era habitada por uma população de maioria árabe, como carinhosamente relembrou o poeta Zaz Recarey que anotou: "había allí una turcada maravillosa”. Ele próprio, filho de libaneses.
Entretanto, os libaneses não tiveram atuação destacada apenas no comércio, interagindo na comunidade fronteiriça como professores, poetas, artistas. Apenas para citar alguns, lembremos de Hipólito Zaz Recarey e Clarel Neme. Homens valentes, não foram indiferentes às transformações políticas que sacudiram o Uruguai no início do século 20. O sentimento de pertencimento a uma segunda pátria, uruguaia, fez com que o imigrante acastelhanado Emilio Nizarala, radicado em Rivera, se engajasse na coluna de seu amigo, o líder blanco Aparício Saraiva e fosse defender sua pátria. Outros libaneses também apoiaram a causa como o jovem Khalil Aseff, que após ser perseguido pelo governo Batlle, cruzou a fronteira recomeçando vida nova no lado brasileiro. A figura de Juan Molke se impõe no cenário riverense dos primeiros anos de 1900 destacando-se como empresário e líder da colônia libanesa local. Estabelecido e próspero comerciante, atuará como uma espécie de cônsul, estimulando e patrocinando a vinda de jovens solteiros, que tinham esparsas oportunidades de trabalho em seu povoado.

A comunidade sírio-libanesa então constitui seus espaços de cultura e sociabilidade, quando em 1917 organiza a Liga Patriótica Libanesa, atual Sociedade Libanesa de Rivera. O lugar era cedido por um patrício, sendo frequentado pelos libaneses de Rivera e Santana, pois do lado brasileiro nunca efetivou-se nenhum tipo de sociedade recreativa. Em 1948, os sócios da Sociedade decidem-se pela construção de um Panteon no cemitério riverense. No final da década de quarenta, com o falecimento de alguns pioneiros, a Sociedade, desmobilizada é desativada retornando suas atividades somente em meados dos anos 80, com alguns velhos imigrantes e seus filhos. Porém, assim como o cônsul Molke auxiliava os jovens, também mantinha sua autoridade sobre eles, estimulando e sugerindo o casamento entre as moças libanesas que chegavam ou as que já estavam estabelecidas na cidade. Uma forma eficaz de perpetuar as raízes árabes no novo chão. Entretanto, com o decorrer do tempo muitos libaneses, especialmente os que viviam do lado brasileiro da linha divisória, e que ali haviam constituído um clã, vão integrar-se profundamente a cultura local, ocultando sua raiz árabe. Vários seriam os motivos para esta perda do referencial cultural, e a segunda geração, constituída por brasileiros-árabes, nunca foi estimulada a falar o árabe. Seus pais logo souberam que o êxito dos negócios e a mobilidade social estavam ligados à fluência da comunicação em português e ao distanciamento da imagem estigmatizada de “turcos”. A necessidade em se relacionar com os clientes e com a comunidade fronteiriça exigia dos imigrantes a fluência nos idiomas português e espanhol. Outra limitação estava relacionada ao casamento. Casaram-se com mulheres brasileiras que não tinham interesse que seus filhos convivessem com a cultura árabe. Talvez para evitar a discriminação que essa primeira geração de imigrantes sentiu, logo no início de seu estabelecimento em Santana.
Ainda assim, a busca por uma identidade remanescente constituiu-se de um elemento muito forte para alguns imigrantes, na manutenção de sua raiz nesse novo ambiente. Enquanto construção cultural, certamente cada grupo sente-se estimulado a valorizar sua identidade. Conforme ensina Edward Said, o mundo árabe é feito de identidades múltiplas, onde diferentes manifestações culturais conviveram dentro de uma mesma região. Claro que a relação entre os grupos ao longo dos séculos não se mostrou fácil ou pacífica, no entanto, o povo árabe sempre conviveu com o diferente, com o outro. Identifiquei dois fortes centros de resistência ao aculturamento, dois territórios da cultura árabe na fronteira: o armazém de Rage Maluf e os encontros dominicais de imigrantes libaneses e palestinos no Parque Internacional. O armazém de Rage, semelhante a um clube, constituía-se em espaço da sociabilidade, recebendo compatriotas que residiam em Rivera e Santana. Ali costumavam confraternizar ao final da tarde, quando terminava o expediente de trabalho. Buscavam o local para se distraírem, fosse conversando em árabe, fumando ou jogando xadrez. Nos início dos anos 50, as manhãs de domingo eram sagradas para os imigrantes, quando costumavam reunir-se em frente ao obelisco do Parque Internacional, para conversar em árabe e tratar de temas sérios como a sempre turbulenta situação política do Oriente Médio ou, simplesmente, fofocar. Alguns costumavam levar seu chimarrão, como Sami Kazzaka, outros iam acompanhados dos filhos, como Ibrahim Tarabay. Ali, reunidos, estavam os integrantes da primeira geração, como pioneiro Nahim Chein e da segunda leva, como o jovem e recém emigrado Samir Kazzaka.
O estigma sempre acompanhou a trajetória do povo árabe. Ao chegar à fronteira, a exemplo de outros lugares, foram imediatamente identificados como turcos, fossem sírios, libaneses ou palestinos. Enquanto Rivera os acolheu de maneira amistosa e integrada, em Santana do Livramento a sociedade local mostrou-se refratária e com as mesmas características excludentes que mantinham com os despossuídos e estrangeiros em geral. Se os espanhóis e italianos eram chamados de anarquistas, os árabes eram os turcos, exóticos e pouco confiáveis. Embora as características dessa sociedade pouco tenha se alterado com o passar das décadas, a pujança cultural e comercial árabe se impôs, forjando uma aceitação gradual e que teve o ingrediente da miscigenação cultural. As famílias palestinas emigradas no final dos anos 50 criaram espaços da cultura árabe, como a Mesquita, a Sede Social da Sociedade Palestina, o cemitério. Atualmente na fronteira, são os integrantes da diáspora palestina que exercem forte influência econômica.
Em Santana, o comércio local é hoje predominantemente ligado aos imigrantes jordaniano-palestinos, que chegaram em meados dos anos sessenta. Também em Rivera, algumas das tradicionais casas comerciais da cidade foram compradas por palestinos, que emigraram nos final dos anos cinqüenta para Santana do Livramento. A persistência é uma forte característica dessa geração que recebeu o respeito da comunidade por sua trajetória de lutas pelo seu território, seja no Oriente ou na América.
Palestra apresentada por Liane Chipollino Aseff, na Semana da Cultura Árabe, que acontece de 25 a 28 de outubro na Unipampa - Universidade Federal do Pampa, em Santana do Livramento (RS).

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mundo Árabe em evidência

O mundo árabe e suas peculiaridades religiosas e culturais está mais próximo da cultura brasileira do que muita gente poderia imaginar. Os imigrantes árabes, entre católicos e muçulmanos, contribuíram decisivamente para formar o país que hoje conhecemos em toda a sua diversidade. Neste mês de outubro, uma série de encontros dedicados a cultura árabe aprofundam os debates sobre as tradições herdadas do oriente médio, a contribuição cultural desses povos para o Brasil e a humanidade, e o conturbado presente político da região. Na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), campi de Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, a Semana da Cultura Árabe acontece de 25 a 28 de outubro, reúnindo palestrantes, mostra de dança e culinária, em um evento pioneiro na região (clique nos cartazes para ampliar).
Na semana anterior, em Florianópolis (SC) aconteceu a Primeira Semana da Cultura Árabe do Islã no Contemporâneo, na sede da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina). O evento reuniu escritores, líderes religiosos e acadêmicos em torno do legado do Islã e seus dilemas políticos atuais.
Ao mesmo tempo, acontece no Rio de Janeiro, no Centro Cultural Banco do Brasil, o Projeto Islã, uma série de eventos abordando as nações do mundo islâmico, reunindo palestrantes, peças raras e ciclos de filme sobre o mundo árabe. Durante esta semana, estaremos atualizando notícias, abordando a Semana Árabe em Santana do Livramento.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Às ruas tambores e poetas: contra o golpe midiático!

Ato histórico com mais de duas mil pessoas reuniu antigos adversários políticos no Rio Grande do Sul e lançou uma advertência ao país: clima inédito de sordidez, de difamação e calúnias, em um ambiente de golpismo político-midiático ameaça a democracia e legitimidade do processo eleitoral, podendo descambar para uma ruptura política. Governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e lideranças políticas de vários partidos anunciaram que exército de militantes estará nas ruas nos próximos dias e conclamaram resto do país a fazer o mesmo. “A militância vai fazer a diferença e eleger Dilma", disse Tarso.

O salão São José do Hotel Plaza San Rafael viveu um momento histórico na noite de quinta-feira. O ato de mobilização da candidatura de Dilma Rousseff (PT) reuniu mais de duas mil pessoas, contando quem conseguiu entrar no auditório e quem teve que ficar do lado de fora. Mas o tamanho do público não foi o único destaque do ato. A mesa que comandou os trabalhos mostrou uma aliança de forças políticas que há muito tempo não se via na história do Rio Grande do Sul. Lá estava, entre outros, o governador eleito do Estado, Tarso Genro (PT), o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), os senadores Sérgio Zambiasi (PTB) e Paulo Paim (PT), o deputado federal Mendes Ribeiro Filho (PMDB), o deputado federal Beto Albuquerque (PSB), a deputada federal Manuela D’Ávila (PC do B), deputados federais e estaduais do PT, o deputado estadual Luis Augusto Lara (PTB), lideranças históricas da política gaúcha como Aldo Pinto (PDT), além de dezenas de parlamentares, prefeitos, vereadores e lideranças de vários partidos, igrejas, sindicatos e outras organizações da sociedade.

Um tom de urgência, gravidade e intensa mobilização marcou praticamente todas as intervenções. A unidade política representada na mesa, reunindo tradicionais rivais políticas da história recente da política gaúcha, deixou claro qual era o cimento que a solidificava: um objetivo maior, um bem maior, a saber, o futuro do Brasil e a continuidade do atual projeto de desenvolvimento social representado pelo governo Lula. Denunciando a sordidez sem limites da campanha de baixarias, mentiras e difamações patrocinada e apoiada pela campanha de José Serra, vários oradores falaram de riscos para a democracia e lembraram a campanha da Legalidade, liderada por Leonel Brizola em defesa do governo de João Goulart. “Eu nunca vi uma campanha tão sórdida em toda a minha vida”, desabafou o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, que saudou, sem esconder a emoção, seus antigos e , naquele momento, renovados, “companheiros e companheiras”.

Aldo Pinto fez um dos pronunciamentos mais veementes da noite e remexeu em feridas históricas brasileiras e nas relações conflituadas entre projetos de governo que tinha ligações fortes com o Rio Grande do Sul e as elites paulistas. “Tenho certeza que o povo gaúcho não vai escolher outra vez um paulista como governante”. Na mesma linha, o deputado federal do PMDB, Mendes Ribeiro Filho, criticou o projeto representado pelo representante da elite paulista, José Serra, conclamando uma intensa mobilização para as próximas duas semanas. Vários prefeitos do PMDB acompanharam o deputado no ato e anunciaram trabalho ininterrupto nos seus municípios nos próximos dias. Já o senador Sérgio Zambisi fez um alerta especial às mulheres: “Vocês tem uma responsabilidade especial nestas próximas duas semanas, maior que a nossa até, pois, caso Serra vença, são vocês que sofrerão mais”, disse Zambiasi.

Coube ao governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, fazer a fala mais veemente da noite. O tom dramático do discurso estava baseado na percepção de que há uma grave ameaça pairando sobre a democracia brasileira. Nunca antes na história do Brasil, um candidato adotou como plataforma política uma campanha de calúnias e difamações contra sua adversária política. Uma inédita sordidez, repetiu Tarso. “Estamos assistindo a uma campanha de golpismo político e midiático semelhante ao que ocorreu antes do golpe de 64. Mas hoje a ameaça não vem dos militares. Hoje essa ameaça é talvez mais grave, pois se trata de golpismo político com apoio de uma parte importante da grande imprensa”. Uma prática, segundo ele, que pode provocar uma ruptura política no país e coloca em risco a legitimidade do processo eleitoral. A frase mais grave e significativa da noite: A campanha de baixarias da candidatura Serra pode provocar uma ruptura política no país.

Mas Tarso e os demais não apostam no caminho da ruptura, mas sim no da superação do nível sórdido da campanha por meio de uma antiga e sempre eficiente arma do PT e dos partidos e organizações populares: a força de sua militância. Nos próximos dias, milhares de ativistas, militantes e apoiadores deverão sair às ruas do Rio Grande do Sul para fazer campanha para Dilma. “A gente ganha uma eleição pedindo voto. Nós temos que ir para a rua pedir votos”, resumiu Mendes Ribeiro, bastante aplaudido. “A militância vai fazer a diferença e eleger Dilma. Eles esgotaram seu estoque de baixarias e já estão repetitivos”, acrescentou Tarso.

Fazendo mais uma vez referência à Campanha da Legalidade, Tarso e as demais lideranças políticas presentes no ato anunciaram que o Rio Grande do Sul pretende mobilizar todo o país em defesa de Dilma, da democracia e do projeto representado pelo governo Lula. A mensagem transmitida no ato foi em tom alto e claro, sem metáforas: as elites paulistas e seus aliados terão mais uma vez à sua frente adversários que, desde Getúlio Vargas, insistem em contrapor um projeto de desenvolvimento nacional ao suposto cosmopolitismo dessa elite que só enxerga o povo pobre como um objeto a ser usado em época de eleição e o país como um balcão para seus negócios privados.


Por Marco Aurélio Weissheimer, publicado na Carta Maior

sábado, 16 de outubro de 2010

Eleições, mentiras, videoteipe e Segundo Turno

I. O momento da guinada- surpreendente, da candidata que lidera as intenções de voto abriu sua participação escancarando a "campanha de calúnias e mentiras" lançada contra si mesma. Tomou a iniciativa de introduzir o tema do aborto - principal peça usada pelos adversários para fustigá-la. Ousoureferir-se à esposa de seu oponente, apontando-a como parte dosataques (e não foi contestada.). Depois, partiu para o território mais desejado: as privatizações, ausentes da campanha até agora, foram tema de três perguntas em sequência, e certamente polarizarão as discussões, daqui para frente.

Pouco traquejada em debates televisivos, Dilma Roussef teve momentos de nervosismo e lapsos, na noite do último domingo (10/10), primeiro confronto com José Serra após o primeiro turno. Mas ao final, havia alcançado dois objetivos. O mais visível foi retomar a iniciativa e voltar a pautar a disputa presidencial, depois de quase um mês apenas "segurando o resultado" e da frustração por não liquidar a disputa em 3 de outubro. Menos evidente, porém ainda mais importante, foi ter exposto a face pouco convencional - e por isso surpreendente e perigosa - da "nova" direita que a candidatura de José Serra articula. A frase que sintetiza esta descoberta ficará marcada. "Vocês estão introduzindo ódio na vida brasileira".

A reação de Dilma respondeu a uma emergência. Estacionado por meses no patamar de 25%dos votos, incapaz de despertar entusiasmo ou simpatia durante toda a campanha, José Serra mostrou que não estava morto a partir de meados de setembro. Os ataques subterrâneos que lançou contra a candidata petista foram incapazes de lhe transferir votos. Mas provocaram o segundo turno, porque um grande contingente de eleitores atingidos refugiou-se em Marina . Embora tenha conquistado menos de 1/3 das preferências dos eleitores, o candidato do PSDB viu-se, de um momento para outro, em condições reais de se tornar presidente. Tal possibilidade foi demonstrada pela primeira pesquisa de intenção de votos para o segundo turno, do Datafolha. Em 7 e 8 de outubro, menos de uma semana após a primeira disputa, Serra avançara pouco: tinha 41% das intenções de voto, contra 40% na sondagem anterior. Mas Dilma caíra de 52% para 48%. A diferença estreitara-se cincos pontos - reduzindo-se a apenas sete. Para entender como tal reviravolta foi possível, é preciso examinar a fundo, à luz dos novos fatos, as características da campanha de Serra.

II. Uma estratégia de despolitização radical - Subestimada durante meses, por fugir inteiramente à lógica das disputas políticas clássicas (e do que se esperaria de alguém com o passado do candidato), a trajetória do candidato tucano começa agora a
fazer sentido. Inspira-se no Tea Party, a ultra-direita norte-americana que reemergiu com enorme força, em resposta à eleição de Barack Obama - e que tem como ícone Sarah Palin. Seu perfil não se confunde nem com o da direita clássica (que defendia com sinceridade as ideias conservadoras), nem com o do neoliberalismo (que postulava como valor máximo a supremacia dos mercados). Corresponde a uma fase de impasse do capitalismo ocidental. Depois de verem seu projeto de sociedade questionado, e de o terem reciclado parcialmente nas décadas anteriores, as velhas elites parecem, em todo o mundo, incapazes de dar um novo passo propositivo adiante. Sua associação orgânica com o conservadorismo foi abandonada, na sequência
a 1968; sua crença na "mão invisível", que substituiu a antiga aliança a partir do fim dos anos 1970, acabou destroçada pela crise pós-2008; as periferias batem à porta - tanto as globais, quanto as metropolitanas. Resta resistir a elas: e como não é possível fazê-lo por meio de um projeto articulado, convocam-se os medos e
ressentimentos: o irracional.

É uma aposta momentaneamente forte, porque as ideias de ampliação da democracia e transformação social rearticularam-se há muito pouco (na virada do século) e não puderam ainda fincar raízes no imaginário popular, nem formular conceitos sólidos. Lula, Obama ou Evo Morales; o Fórum Social Mundial, a sociedade civil global, o desejo de rever as relações entre o ser humano e a natureza; a cultura das periferias, a aparição em cena dos indígenas e negros, as novas classes médias; a
blogosfera, o compartilhamento de cultura e conhecimento, a colaboração como valor decisivo para produzir - tudo isso são todos fenômenos contemporâneos. Não têm o peso da experiência, dos erros, dos recursos materiais e financeiros, da influência geopolítica que caracterizava a tradição de esquerda anterior - especialmente a
social-democracia e o socialismo real.

Sem uma alternativa para contrapor a estas inovações que aspiram a construir futuro, a direita-Tea Party tenta despejar sobre elas os preconceitos do passado. Sua estratégia é evitar o debate político e, sobretudo, o choque entre projetos. Suas propostas são risíveis: nos EUA, insiste-se em manter duas guerras, ampliar os cortes de impostos decretados por Bush e, ainda assim, reduzir o déficit público. Seu método é substituir o debate racional pela mobilização de rancores e recalques, pelas denúncias caluniosas e não-assumidas, pelo ataque implacável a certas ideias e personalidades, pela desinformação deliberada e generalizada.

Seu poder não pode ser desprezado - especialmente em sociedades nas quais o acesso médio dos cidadãos à informação ainda é reduzido. Nos EUA, pesquisa recente mostrou que apenas um terço dos cidadãos sabe que Barack Obama é cristão; 20% pensam que ele é muçulmano; e o percentual dos que estão mal-infomados cresceu acentuadamente desde a posse do presidente. Além disso, boa parte da sociedade crê sinceramente que a crise financeira é responsabilidade direta de Obama, não das políticas de seus antecessores. A candidatura Serra repete de modo impressionante, em seus aspectos centrais, este padrão. O postulante jamais apresentou programa - nem à Justiça Eleitoral1, nem, principalmente, aos eleitores. O sentido geral das propostas de Dilma e Marina é compreensível e razoavelmente conhecido: pode-se aderir a elas, deplorá-las, apoiá-las em parte, estabelecer diálogos. O presidenciável do PSDB apresenta, enquanto isso, uma coleção de promessas incoerentes ao longo do tempo e
incompatíveis entre si.

Ele já foi contra e a favor da renda cidadã e do programa habitacional do governo. Ele diz que o Estado brasileiro tem uma dívida crescente(o que é falso.) e ainda assim propõe cortar impostos dos ricos e, ao mesmo tempo, ampliar os benefícios pagos à maioria (contrariando toda a sua prática anterior). Ele tenta sepultar debates incômodos com rompantes repentinos, cheios de bazófia e incompatíveis com seu arco de alianças (em 12/10, dois dias depois de Dilma introduzir na campanha as privatizações, prometeu reestatizar empresas.). A velha mídia jamais questiona estas incongruências. Mergulhada ela própria em crise, talvez deposite suas últimas esperanças numa contra-utopia orwelliana, num descolamento radical entre o discurso político e a realidade, em que a mediação jornalística assumiria por completo caráter de ficção - e seria recompensada por isso.

III. Desconstruir a adversária - Como lhe falta um programa coerente, a direita-Tea Party apela para a desconstrução das candidaturas que vê como inimigas. Nos EUA, contra todas as evidências e racionalidade, Barack Obama é apontado como um marxista e traidor da pátria - de nada lhe servindo, aliás, manter um orçamento militar superior ao de George W. Bush. No Brasil, o alvo é Dilma. A "nova" direita não ousa atacar nem a figura de Lula, nem o lulismo. Além de temer a popularidade do presidente, não tem projeto a contrapor. Por isso, sua preocupação central não é, sequer, destacar as possíveis qualidades de Serra - mas transformá-lo, por meio da eliminação política de sua adversária, numa espécie de candidato único.

A fase intensa da campanha para desconstruir Dilma começou no final de agosto e desdobrou-se em duas fases. Na primeira, o protagonismo foi do Jornal Nacional e de quatro publicações impressas que esqueceram suas rivalidades históricas para formar uma espécie de Santa Aliança: O Globo, Veja, Folha e Estado de S.Paulo. Nesta fase, o método consistiu em bombardear a opinião pública com dois "escândalos": o vazamento do sigilo bancário de Verônica Serra, do qual Dilma Roussef foi - sabe-se agora com certeza - injustamente acusada; e a agência de lobby mantida pelo filho de Erenice Guerra, que não obteve nenhum favorecimento real, embora usasse o parentesco com a mãe poderosa para impressionar clientes.

O primeiro caso era uma ficção; o segundo, uma irrelevância. Mas ambos monopolizaram, por 30 dias, as manchetes dos três jornais de maior circulação do país; da revista semanal mais conhecida; e do noticiário de maior audiência na TV. Para atestar o caráter eleitoreiro das "denúncias", basta lembrar que foram imediatamente esquecidas, ao cumprirem seu papel na campanha. Não visavam investigar a fundo um assunto importante – apenas iniciar atacar uma candidatura, para favorecer outra.

Dilma resistiu ao ataque. Mas nas três semanas que antecederam as urnas, a ofensiva midiática foi complementada por outra: a mobilização das bases conservadoras. Nos EUA, ela é uma caracteística da Tea Party: aproveitando-se da frustração inicial das expectativas geradas por Obama, a direita formou centenas de comitês em todo o país e
promoveu ao menos duas grandes marchas em Washington. No Brasil, onde não há nada que se compare a esta força, recorreu-se à difusão de denúncias apócrifas por meio da internet - um espaço onde o PT e seus aliados desperdiçaram muitas oportunidades e ignoraram a blogosfera potencialmente aliada.

A campanha de Serra articulou o lançamento incessante de boatos anônimos. Mobilizou a classe média conservadora e ressentida, numa rede informal muito capilarizada. Imitando uma vez mais o exemplo norte-americano, apoiou-se (sob as vistas grossas da CNBB) no poder crescente que o fundamentalismo está conquistando no catolicismo
institucional e em algumas seitas evangélicas. Uma visita ao site sejaditaverdade, ou a leitura de cartaz, afixado diante de muitas igrejas, no dia da eleição (na foto, em PortoAlegre), dão uma pequena idéia do que se destilou. Segundo a montanha de spams políticos, a candidata teria participado de diversos assassinatos. Sua postulação visaria, fundamentalmente, aprovar a disseminação do aborto, o casamento gay e o ataque do Estado às Igrejas. Enfrentaria processo de uma ex-amante. Lançaria blasfêmias contra Cristo ("nem ele impede minha vitória"). Posaria com armas. Estaria impedida de entrar nos Estados Unidos, por atos terroristas. Teria mobilizado fabricantes de chips chineses para fraudar as urnas eletrônicas brasileiras. Sua candidatura estaria a ponto de ser impugnada pelo "ficha limpa". Seu vice, Michel Temer, freqüentaria seitas satanistas em Curitiba. Etc. Etc. Etc.

O jornalista Leonardo Sakamoto explicou, em seu blog como estas alegações inteiramente inconsistentes acabam adquirindo força, em conjunto. Disparadas às dezenas de milhões, cada uma delas acaba atingindo um público que se sensibiliza pelo tema em questão e acredita no argumento. Os integrantes deste grupo passam a reproduzir a "denúncia", acrescentando a ela, agora, o peso de sua reputação e
influência pessoal.

A montagem desta rede de boatos foi a função a que se dedicou o norte-americano de origem indiana Ravi Singh, sócio da transnacional de marketing político ElectionMall - que prestou consultoria por meses à campanha de Serra2. Em 2007, diante do sucesso de Obama na internet, o site progressista norte-americano Mother Jones entrevistou Michael Cornfield, vice-presidente da empresa. Indagado sobre a possibilidade de a direita servir-se da internet no futuro, ele a considerou inevitável. E frisou: "Há mais de uma maneira de usar a web. Muito mais que uma maneira". No exato momento em que a campanha de Serra mobilizava todas as suas energias, a de Lula e Dilma descansava. O movimento fazia sentido, se visto pela lógica das disputas eleitorais travadas até então. Num comício em Curitiba, a uma semana do primeiro turno, o presidente recomendou a seus apoiadores "segurar o jogo". "Estamos ganhando de 2 x 0 e faltam dez minutos para terminar a partida. O adversário está nos chutando na canela e no peito e o juiz não apita falta. Querem expulsar alguém do nosso lado. Vamos fazer como o Parreira, quando técnico do Corínthians, e prender a bola. Enquanto ela estiver nos nossos pés, o outro time não faz gol". Comemorara cedo demais a resistência de Dilma aos ataques midiáticos. Não se dera conta de que, em articulação com a boataria apócrifa, eles haviam constituído um ataque em pinça poderoso. Milhões de eleitores, que conheciam a candidata superficialmente, eram atingidos agora tanto pelo Jornal Nacional quanto por mensagens recebidas de pessoas próximas e confiáveis.

Um excelente texto publicado por Weden no site do Luís Nassif sintetizou o cenário. Além de provocar a segundo turno, a artilharia cerrada disparada durante semanas pela mídia e pela central de boatos apócrifos estava começando a desconstruir politicamente a candidata. Expressão destacada do lulismo, responsável pelo planejamento e articulação política de seu segundo governo, ela estava sendo reduzida a uma escolha errada do presidente. "Reconheço que nunca houve um governo tão bom para nós", mas "esta mulher é um perigo para o país" foi o depoimento emblemático colhido por Weden junto a um taxista - que estava disposto a votar em Dilma até as vésperas do primeiro turno, mas migrou para Marina e tendia, naquele momento (7/10) a Serra. Embora ainda limitado (daí Dilma manter-se na dianteira), o movimento alastrava-se rapidamente. Weden abordou com realismo seu sentido potencial: "A candidata petista está perdendo o 'efeito continuidade' que conseguiu representar até semanas atrás. Se Dilma ficar na metade dos votos governistas, perde a eleição".

IV. Por onde corre a repolitização - Como pode uma candidata repolitizar uma campanha, quando setores crescentes do eleitorado questionam sua própria legitimidade? A pergunta embaraçou até mesmo grandes especialistas. Entrevistado por Luís Nassif, Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus, sugeriu que a chave era o tema do aborto. Dilma deveria fazer um pronunciamento "amplo e forte" contra a interrupção da gravidez. Era, evidentemente, um equívoco. Se fosse responder a cada uma das invenções lançadas contra si, a candidata não faria mais nada, até 31 de outubro. Além disso, cada resposta acabaria dando mais destaque ao próprio boato. A vítima de uma sequência de calúnias enfrenta um drama semelhante ao de quem cai num poço de areia movediça: quanto mais se debate, mais afunda. A única saída é buscar um ponto de apoio externo.

Dilma viu no debate da Band, em 10 de outubro, o momento para escapar do poço. Procurou o ponto de apoio mais potente - e, ao mesmo tempo, mais difícil e arriscado. Em sua primeira pergunta a Serra, questionou diretamente a desqualificação da campanha. Já na réplica, ainda mais incisiva, apontou a manipulação de suas opiniões relativas tema ao aborto. Voltou ao ele numa pergunta posterior, quando, para ampliar a veracidade do que alegava, mencionou o envolvimento de Mônica Serra no esforço de difamação. Estava visivelmente tensa: naqueles instantes, qualquer escorregão em sua fala seria catastrófico. Mas completou bem o movimento, que lhe trouxe duas vantagens. Abriu caminho para que sua campanha continue denunciando a armação adversária - ou seja, produzindo antídotos contra a desconstrução de sua imagem. E mostrou grande coragem, desmentindo na prática a impressão - preconceituosa e machista – de que é mero produto de marketing de Lula. Estes dois pontos lhe deram o apoio necessário para abrir, em seguida, o questionamento político e programátrico a Serra. A escolha dos temas era óbvia: privatizações e programas de redistribuição de renda, símbolos máximos da diferença entre o projeto do lulismo e o das elites.

Dará certo? O objetivo principal dos candidatos, num debate como o da Band não é conquistar o eleitorado, mas redefinir os temas que polarizarão a campanha em seguida. Mesmo com apenas 2% de audiência, o evento cria fatos incontornáveis. Os primeiros efeitos foram logo sentidos. A campanha de Serra e os jornalistas que a bajulam tentaram desqualificar a nova postura da candidata - um sinal evidente que ela leva a disputa para um terreno que temem. Mais: o programa de TV do PSDB-DEM foi obrigado a referir-se à privatização. Não poderá manter por muito tempo a abordagem totalmente falsificadora que, como se viu, adotou - desde que a campanha de Dilma aprofunde o tratamento dado ao tema.

Uma coisa é certa: a três semanas da eleição, o giro executado pela candidata em 10 de outubro é um movimento sem retorno. A "Dilminha paz e amor", a continuadora quase natural do legado de Lula, deu lugar a um novo personagem político. Dele precisa fazer parte, também, a polemizadora; a mulher que demonstra vasto conhecimento técnico sobre os programas que coordenou no governo; a que, por estar profundamente envolvida no movimento de democratização expresso pelo lulismo, sente-se à vontade para provocar o choque pedagógico entre projetos para o Brasil. Desta iniciativa dependem agora tanto a repolitização da campanha quando a consolidação ou recomposição da imagem de Dilma, entre a parcela do eleitorado que esteve ou está em dúvida sobre seu voto.

As reviravoltas de campanha levam algum tempo para produzir todos os seus efeitos. É possível que eles não sejam captadas pelas próximas pesquisas - ou seja, que a diferença entre os dois candidatos volte a diminuir ou mesmo desapareça. Será preciso muita calma nessa hora. O grande risco a evitar é o desespero, que levaria a reverter o giro de Dilma. O programa de TV será, nesta reta derradeira, o palco central para este confronto de projetos. A trilha aberta em 10 de outubro só pode ser preenchida com muita informação. É preciso expor, por exemplo, - e sempre por meio de fatos - a resistência (política e simbólica) da base de Serra aos programas de redistribuição de renda; as tentativas de sabotar os projetos de lei que tratam do Pré-Sal (um ano depois de apresentados, só um foi transformado em lei pelo Congresso). Se feita com sabedoria e talento, a exposição dos absurdos assacados contra Dilma pela campanha apócrifa lançará o feitiço contra o feiticeiro. Viveremos fortes emoções, nas próximas semanas. Mas o processo de transformações inciado há oito anos tem potência suficiente para voltar a se impor, entre a maioria do eleitorado. Se isso ocorrer, Dilma acrescentará a sua história pessoal a inteligência de ter sabido, a tempo, comandar o movimento necessário para derrotar a direita-Tea Party - este quase-fascismo pós-moderno que ronda o Brasil em 2010.

1 - Em 3 de julho - data fixada pelo TSE para que os candidatos apresentassem seus programas de governo - a coligação PSDB-DEM-PPS protocolou na Justiça Eleitoral apenas a transcrição dos discursos de Serra feitos na convenção conjunta das três agremiações. A mídia comercial acobertou tal ausência - enquanto destacava, por dias, o fato de a campanha Dilma ter alterado alguns dos itens do programa – formalmente apresentado.

2 - Sempre tendente à mistificação e ao provincianismo, a velha mídia tratou Singh como um "guru". Certamente, impressionou-se por sua origem indiana, ou pelo fato de usar o turbante típico da etnia sikh.
texto original: Serra abraça o Tea Party - O novo cenário do segundo turno
Por Antonio Martins, no blog Outras Palavras.
Enviado pelo amigo Marcelo D'Àvila Leal, nosso homem em Brasília.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Isabel Najas, uma uruguaia arabizada!


Dona Isabel realmente é uma figura incomum. Aos 90 anos parece ter a vitalidade de uma jovem de 20. Com seus olhos azuis vibrantes, que emanam luzes quando o assunto é comunidade árabe, "los paisanos" e as coisas de seu partido Blanco, mantém em seu cotidiano um ritmo quase juvenil. Para isso, costuma utilizar uma estratégia muito prática: "nem me acuerdo que tengo 90 anos, que me importa!" Essa uruguaia, nascida no meio de uma família de tradicionais pecuaristas, é fruto de um hibridismo cultural típico da fronteira.
Filha de pai brasileiro, avó italiana e mãe uruguaia, desde a infância acostumou-se a ouvir a linguagem miscigenada de seus parentes. Desde cedo a jovem Isabel aprendeu o significado da luta por seus ideais de vida e mais tarde por seus desígnios políticos. Quando entrava na adolescência, deparou-se com um jovem e atraente mascate libanês, que vendia com seu "cache" pelos campos de sua família. O amor à primeira vista havia feito então seus prisioneiros! Embora contasse apenas 15 anos, a jovem tomou posição quando seus pais fizeram pouco caso do seu candidato. Será porque ele era árabe? A proibição desse relacionamento levou Isabel para a casa de um tio, onde novamente foi descoberta por seu pretendente, cerca de três anos depois. Os pais então a mandaram para Montevidéu, onde aproximou-se da comunidade árabe, da poetisa Laila Neffa e da juventede militante do Partido Blanco. Agora, Mussi Najas,o pretendente de Isabel, já era um promissor comerciante em Rivera, um rapaz que havia demonstrado muita coragem e iniciativa desde os primeiros anos no árduo ofício de trabalhador ambulante.

Quando descobriu novamente o paradeiro de sua eleita na capital, pensou uma estratégia diferente. Desta vez, enviou seu pai, Massud Najas, a capital, para inteceder junto aos tios de Isabel e pedir a mão da moça de olhos azuis. O pedido foi aceito, desde que o casamento fosse realizado em uma igreja católica em Montevidéu. De volta a fronteira, foram recebidos com uma legítima festa libanesa pela comunidade árabe. Desde esse momento, Isabel pode ser considerada uma legítima representante dessa cultura na fronteira. Uma jovem de origem italiana, arabizada e adepta fervorosa do Partido Blanco.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Reitores de universidades federais aprovam governo Lula

EDUCAÇÃO – O BRASIL NO RUMO CERTO

Manifesto de Reitores das Universidades Federais à Nação Brasileira

Da pré-escola ao pós-doutoramento - ciclo completo educacional e acadêmico de formação das pessoas na busca pelo crescimento pessoal e profissional - consideramos que o Brasil encontrou o rumo nos últimos anos, graças a políticas, aumento orçamentário, ações e programas implementados pelo Governo Lula com a participação decisiva e direta de seus ministros, os quais reconhecemos, destacando o nome do Ministro Fernando Haddad.

Aliás, de forma mais ampla, assistimos a um crescimento muito significativo do País em vários domínios: ocorreu a redução marcante da miséria e da pobreza; promoveu-se a inclusão social de milhões de brasileiros, com a geração de empregos e renda; cresceu a autoestima da população, a confiança e a credibilidade internacional, num claro reconhecimento de que este é um País sério, solidário, de paz e de povo trabalhador. Caminhamos a passos largos para alcançar patamares mais elevados no cenário global, como uma Nação livre e soberana que não se submete aos ditames e aos interesses de países ou organizações estrangeiras.

Este período do Governo Lula ficará registrado na história como aquele em que mais se investiu em educação pública: foram criadas e consolidadas 14 novas universidades federais; institui-se a Universidade Aberta do Brasil; foram construídos mais de 100 campi universitários pelo interior do País; e ocorreu a criação e a ampliação, sem precedentes históricos, de Escolas Técnicas e Institutos Federais. Através do PROUNI, possibilitou-se o acesso ao ensino superior a mais de 700.000 jovens. Com a implantação do REUNI, estamos recuperando nossas Universidades Federais, de norte a sul e de leste a oeste. No geral, estamos dobrando de tamanho nossas Instituições e criando milhares de novos cursos, com investimentos crescentes em infraestrutura e contratação, por concurso público, de profissionais qualificados. Essas políticas devem continuar para consolidar os programas atuais e, inclusive, serem ampliadas no plano Federal, exigindo-se que os Estados e Municípios também cumpram com as suas responsabilidades sociais e constitucionais, colocando a educação como uma prioridade central de seus governos.

Por tudo isso e na dimensão de nossas responsabilidades enquanto educadores, dirigentes universitários e cidadãos que desejam ver o País continuar avançando sem retrocessos, dirigimo-nos à sociedade brasileira para afirmar, com convicção, que estamos no rumo certo e que devemos continuar lutando e exigindo dos próximos governantes a continuidade das políticas e investimentos na educação em todos os níveis, assim como na ciência, na tecnologia e na inovação, de que o Brasil tanto precisa para se inserir, de uma forma ainda mais decisiva, neste mundo contemporâneo em constantes transformações.

Finalizamos este manifesto prestando o nosso reconhecimento e a nossa gratidão ao Presidente Lula por tudo que fez pelo País, em especial, no que se refere às políticas para educação, ciência e tecnologia. Ele também foi incansável em afirmar, sempre, que recurso aplicado em educação não é gasto, mas sim investimento no futuro do País. Foi exemplo, ainda, ao receber em reunião anual, durante os seus 8 anos de mandato, os Reitores das Universidades Federais para debater políticas e ações para o setor, encaminhando soluções concretas, inclusive, relativas à Autonomia Universitária.

Alan Barbiero - Universidade Federal do Tocantins (UFT)
José Weber Freire Macedo – Univ. Fed. do Vale do São Francisco (UNIVASF)
Aloisio Teixeira - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Josivan Barbosa Menezes - Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)
Amaro Henrique Pessoa Lins - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Malvina Tânia Tuttman – Univ. Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Ana Dayse Rezende Dórea - Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Maria Beatriz Luce – Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)
Antonio César Gonçalves Borges - Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Maria Lúcia Cavalli Neder - Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Carlos Alexandre Netto - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Miguel Badenes P. Filho – Centro Fed. de Ed. Tec. (CEFET RJ)
Carlos Eduardo Cantarelli – Univ. Tec. Federal do Paraná (UTFPR)
Miriam da Costa Oliveira – Univ.. Fed. de Ciênc. da Saúde de POA (UFCSPA)
Célia Maria da Silva Oliveira – Univ. Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Natalino Salgado Filho - Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Damião Duque de Farias - Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)
Paulo Gabriel S. Nacif – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
Felipe .Martins Müller - Universidade Federal da Santa Maria (UFSM).
Pedro Angelo A. Abreu – Univ. Fed. do Vale do Jequetinhonha e Mucuri (UFVJM)
Hélgio Trindade – Univ. Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Ricardo Motta Miranda – Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Hélio Waldman – Universidade Federal do ABC (UFABC)
Roberto de Souza Salles - Universidade Federal Fluminense (UFF)
Henrique Duque Chaves Filho – Univ. Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Romulo Soares Polari - Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Jesualdo Pereira Farias - Universidade Federal do Ceará - UFC
Sueo Numazawa - Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
João Carlos Brahm Cousin - Universidade Federal do Rio Grande – (FURG)
Targino de Araújo Filho – Univ. Federal de São Carlos (UFSCar)
José Carlos Tavares Carvalho - Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
Thompson F. Mariz - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
José Geraldo de Sousa Júnior - Universidade Federal de Brasília (UNB)
Valmar C. de Andrade - Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
José Seixas Lourenço – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)
Virmondes Rodrigues Júnior – Univ. Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
Walter Manna Albertoni - Universidade Federal de São Paulo ( UNIFESP)