sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Raízes do Nacionalismo



Na obra Comunidades Imaginadas, o historiador norte-americano Benedict Anderson busca explicar as origens do nacionalismo, enquanto fenômeno abrangente nas sociedades modernas. Para entender o crescimento do nacionalismo enquanto fenômeno político, Anderson aponta as raízes históricas para o surgimento do conceito, que ele vai creditar, finalmente, a contribuição decisiva dos países colonizados, fora do eixo europeu, ligados às lutas asiáticas e latinoamericanas.

Benedict Anderson nota, logo no início da obra, que as guerras entre países que tiveram sua origem moderna em revoluções marxistas, hoje tem o “nacional” acima de outra qualquer categoria. Conforme nos lembra  Hobsbawn, os estados marxistas tem mostrado a tendência de se tornarem nacionais não só na forma, mas no conteúdo, ou seja: nacionalistas. Dessa forma, a condição nacional (nation-ness), é o valor de maior legitimidade universal na vida política de nossos tempos. (p.28)

Anderson, em sua crítica a tentativa marxista de entender o fenômeno, aponta no texto do Manifesto Comunista, as referências nacionais – aqui ligadas ao conceito de burguesia, como uma “anomalia” da teoria. Se a burguesia é uma classe mundial, na medida em que é definida pelas relações de produção, porque Marx utilizou o termo “burguesia nacional” ?, indaga-se Anderson. (p.29)

Para o autor, nacionalismo, nacionalidade e condição nacional são produtos culturais específicos, que devem ser investigados em suas origens históricas e de que maneira seus significados se transformaram ao longo do tempo, para chegar aos dias atuais com uma legitimidade emocional tão profunda.

Ao avaliar o conceito de nação, Anderson observa alguns paradoxos, como uma “modernidade objetiva” versus uma “antiguidade subjetiva” , ou seja, a universalidade formal da nacionalidade como conceito sócio-cultural, e o poder político dos nacionalismos versus uma “incoerência filosófica”.
Anderson propõe então uma definição: a nação seria uma comunidade política imaginada, intrinsicamente limitada e, ao mesmo tempo, soberana. Ele cita Renan e Gellner para sustentar os conceitos de “imaginada” e “inventada”. A Nação emergente seria limitada e soberana, devido a origem do conceito, forjado em um momento em que o iluminismo e a revolução estavam destruindo a legitimidade do reino dinástico hierárquico. Seria imaginada também, porque concebida como uma “profunda camaradagem horizontal” (p.34), que em última instância acabaria por pavimentar o terreno para tantas mortes e sacrifícios nos últimos dois séculos.

De acordo com Benedict Anderson, as raízes culturais do nacionalismo podem explicar melhor a origem do fenômeno. Nesse sentido ele aponta para alguns fatores determinantes como bases históricas. Os textos sagrados, que continham o poder de estabelecer uma verdade absoluta, entram em declínio e o nacionalismo toma o lugar do que antes era ditado unicamente pela religião e pela fé. O declínio das linguagens sagradas e o crescimento de linguagens seculares a partir do século XVI, tornaram possível a substituição do latim como língua única, perdendo gradativamente o componente sacro.

Por outro lado, o declínio das monarquias e o fim da crença em uma centralização dinástica acelerou o processo, junto ao fato de que a difusão de idéias e fatos em condição de simultaneidade criou uma noção de co-existência.

Anderson também formula o conceito de “capitalitalismo editorial”, onde aponta o aparecimento de livros em línguas seculares e de jornais como relacionados ao surgimento do nacionalismo. Seria a união da tecnologia na imprensa ao capitalismo emergente, que juntos impulsionaram o surgimento de fronteiras lingüísticas e cognitivas que, entre outros fatores associados, estabeleceriam uma base para o surgimento das nações modernas.



Comunidades imaginadas. Reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo, Benedict Anderson. Companhia da Letras, 2008.
Resenha de Marlon Aseff.



Nenhum comentário:

Postar um comentário