sábado, 26 de fevereiro de 2011

Jorge e Cauqueb Neme - o encontro em Rivera.


O país era o Líbano, o ano 1928 (1915, segundo o escritor Antonio Seluja Cecín), quando na cidade de Beirute o estabelecido alfaiate Jorge Neme recebeu o inesperado convite de um irmão, Izidro, para visitar o Uruguai, especialmente a cidade de Rivera. Embora não desejasse ficar por muito tempo, quem sabe pudesse fazer a América? Aquela pequena cidade de fronteira, desenvolvia-se, crescia, estava de braços abertos , esperando pela determinação e perseverança de algum imigrante libanês. Jorge, solteiro e com cerca de 30 anos, decidiu-se então por conhecer novos lugares e os négocios de importação que seu irmão criara exitosamente na calle Sarandi.  Não sabia que seu destino mudaria. Chegando em Rivera, gostou do que viu e ainda encontrou a mulher com quem dividiria sua vida. Em frente da loja de seu irmão, La Estrella del Líbano, moravam Juan e Maria Molke, que costumavam receber paisanos e encaminhá-los para o trabalho ou para algum familiar que vivia em Rivera ou no Brasil. Em 1929, ao ver Cauqueb Mattar, 21 anos, recém emigrada do Líbano, foi amor à primeira vista!
Porém a moça estava com viagem marcada para Santa Catarina, onde em Florianópolis, deveria encontrar e se casar com seu prometido, escolhido desde seu nascimento pelas famílias. Rebelde, Cauqueb renunciou ao noivado/casamento e escolheu Jorge. Se enamoraram, estavam apaixonados, o destino havia armado seu encontro no Uruguai, em Rivera. Dois anos após sua chegada, Jorge e Cauqueb Neme se casaram e mais tarde nasceram os filhos: Jesus, José Maria e Willian.
Jorge reabriu sua alfaiataria abandonada quando deixou o Líbano na calle Sarandi com Lavalleja.
Jesus decidiu seguir a profissão do pai e avô. Foi criado no seio da cultura árabe, pois sua mãe costumava manter a culinária libanesa na maioria dos dias da semana. O quibe, masserado no morteiro de mármore, beringelas assadas e tabule. Mas também aderiu as comidas castelhanas. Cauqueb misturava os idiomas árabe e espanhol, mas como não falava plenamente espanhol, os filhos puderam aprender muitas palavras do vocabulário árabe.
Cauqueb, mostrou-se corajosa, e mesmo tendo condições financeiras, nunca sentiu vontade de voltar ao seu Líbano, mesmo adorando sua terra natal e com o pretexto de ver seus parentes e sua mãe. Jesus conta que a mãe decidiu manter a imagem dos parentes, da mãe jovem, linda, intacta, como no dia em que partiu. Uma única vez recebeu a visita de um irmão,que ficou seis meses conhecendo a região que sua irmã escolheu para construir seu lar. Logo depois voltou a sua terra natal. O casal manteve os laços afetivos com o Líbano através da mémoria e de cartas, que chegavam todo mês. Assim foram reproduzindo sua terra e sua cultura para os filhos castelhanos.
Hoje, Don Jesus Neme, afora sua atividade de sastreiro, que é uma forma de arte, cultiva ainda uma outra, a de cantante. Diverte-se com seu grupo e amigos em recitais no Club Uruguay e no Hotel Portal em Livramento, onde nos happy hours entoa canções memoráveis do tango, bolero e folclore uruguaio. É um homem maduro que aprendeu a ser jovem, pois soube cultivar a simpatia, o carisma e bom humor de sua raíz árabe!

*Esta colaboração foi escrita com base nas datas e relatos de Jesus Neme, embora conste na ata da inauguração da União Sirio Libanesa (atual Sociedade Libanesa de Rivera),fundada em 28 de setembro de 1917, com sede na Calle Cuñapiru, os seguintes nomes da diretoria fundadora: Presidente- Izidro Jorge Neme, Vice Pres. Ignacio Manzor, Secretário- Antonio Safi, Prosecretario- Jorge Neme, Tesorero- Gabriel Juan Curi y Protesorero- Dib Nayem. O principal objetivo desta associação era "enaltecer el nombre de los sirios libaneses, ocuparse de todo lo ateniente a la patria por su bien y ayudar a los socios cuando haya necesidad". Este livro de sessiones, escrito em árabe encontra-se há muitos anos sob custódia do Clube Libanês de Montevideo.

Foto:  Avenida das Palmeiras, atual Largo Internacional, na fronteira Santana e Rivera. Ao fundo, o aguateiro - tradicional carro de água do início so século 20, a poucos metros da Avenida Sarandi. Acervo: Museo Sin Fronteras. clique na imagem para ampliar.

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