domingo, 15 de novembro de 2015

um texto de Luis Carlos Bueno....



Apenas...Impressões!

(...)O limiar da luz há de chegar, talvez não estejamos preparados para isso.  Meu motivo maior nesta vida, disto tenho certeza, não será vagar, penar ou perambular pelas pessoas.
A utilidade social a que nos permitimos, pouco adianta nessa obediência contínua e estéril: - Bom dia, como vai você?  Não quer tomar um café?  Está tudo bem?...
Passarim pelos camarins e meu aroma será degustado, apenas pelo ar e pelo brilho das canções.  Sorvido pelo cheiro inebriante dos jasmins.  Estrelas andam vigiadas e viciadas... Além de Namôr(es), além de Áfricas queremos viver, somos seres de águas claras, ilhas soltas, exóticas...  O importante nisso tudo,  é preservar a lucidez.  Nestas épocas de “crises”, sempre será possível descartar as poluições quando se está lúcido.
Penar a espera dos desconhecidos que perambulam os arrabaldes da vida, é...desesperador, pelo menos prá  mim que estou perdendo a noção real do “quereres”.  É como ficar ouvindo Sex Pistols, bem baixinho.  As ondas que navegam nas correntes límpidas de CO(monóxido de carbono), são como o próprio movimento contínuo de moléculas de poeira estelar, star dust. 
Alice Cooper esvai-me em melancolia.  Acho que para escrever terei de “curar-me” de mediocridade e medos.  As coisas passam, mas tudo está now and forever irremediável. Oh! que desilusão brega, diante de espíritos profanos sem sabor de ousadias mais profundas e profanas.  Tudo não passou de um paradoxo, as tramas se enrolam aos traumas.  Vou...ressuscitar-me.  O que mais vale dos momentos é a intensidade de vida dedicada a eles.
Detesto a juventude besteirol, quero a integridade dos momentos e neles me ilimitar.  Vivenciar os momentos, sem ao menos degustar as horas em que eles são gastos, é desperdiçar o tempo e não senti-lo.  Tudo já está inevitavelmente decidido, talvez, porque o espaço para a loucura e devaneios esteja curto demais.   Tenho que passar pelas chamas, sem virar cinzas.  O quê?  O quês?  De onde vem tantos por quês?
A “intesão” de não ser e não ter é terrível.  A eternidade em que se propagam as coisas é desproporcional à intensidade em que a vida se consome.  A “decadance” já se tornou habitual, tudo bem Rola um jazz a mil (Billy Holiday), e a vida segue rolando, rodando e rolando...Alguns dançam e a morbidez é sorvida “on the rocks”.

“...Chega do lirismo comedido, tipo funcionário público.  Estou farto do lirismo que não seja libertação...”, bradava o poeta Manuel Bandeira.  Não é preciso querer impressionar, já que tudo se tornou tudo.  Isso é o que não quero...  Desejo...                                     Apenas Impressões...

  


Texto do poeta santanense Luis Carlos Bueno (1961-2001)
Imagem:  "new", de Marlon Aseff, 2006.