terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Valdir Agostinho, artista da Ilha

O multi-artista Valdir Agostinho pode se considerar o mais universal homem de arte nascido ao leste da Ilha de Santa Catarina. Músico e artista plástico respeitado, sucesso recente no ano do Brasil na França, onde balançou as estruturas da 57ª Feira de Saint Ettienne com sua música e as famosas pandorgas, Valdir já está em estúdio gravando o aguardado segundo CD. Da nova safra adianta que terá uma música especial para a seleção brasileira, uma homenagem ao mestre Franklin Cascaes e composições feitas com novas parcerias. O filho de seu Zé Agostinho, outra figura emblemática da Barra da lagoa, e Dona Ozima, que ele imortalizou em música, percorreu um caminho ao mesmo tempo pessoal e rico em referências universais. Nessa trilha não faltaram influências que marcaram o começo do artista, como a pintora Vera Sabino, o pesquisador Franklin Cascaes e tantos outros talentos que aterrissavam na ilha pelas mãos do colunista Beto Stodieck, proprietário da galeria de arte A2, nos fecundos anos 70. Valdir era uma espécie de faz-tudo na galeria, e soube aprender a fazer arte sem enterrar suas origens ligadas ao imaginário ilhéu, filho que é de uma família de pescadores da Barra da Lagoa. A mistura resultou em uma figura autêntica, verdadeiro super-herói da arte em uma ilha ainda hoje abandonada pelo poder público quando se trata de fomentar a cultura.
Mas os tempos passaram e Valdir encontrou na reciclagem de objetos, nas colagens e na confecção de pandorgas um caminho inteiramente novo, quando o reaproveitamento de materiais oriundos da indústria e do consumo de massas ainda não estava na moda. Hoje o manézinho mais globalizado da Ilha vive exclusivamente da sua arte, seja fazendo shows  para um público cativo ou expondo suas criações plásticas. Foi assim que ele cresceu, participou do ano do Brasil na França e já recebeu convite para uma bienal das artes plásticas na Europa ainda neste ano. Antes, Valdir espalhou sua arte em Nova Iorque, pouco antes das torres desabarem. Da sua última criação, uma enorme pandorga de 4,5 por 3,5 metros, o artista não esconde a empolgação. "Dei a minha alma nessa criação, coloquei nela toda a religiosidade que me cerca, o pão-por -deus, a baleeira de meu pai, a rendeira, a feiticeira, enfim, tudo o que a Lagoa e o passado marcou em mim", confidencia. "Me intriga saber como ele constrói seu corpo, sua imagem de artista e como ele é construído como artista pelo contexto social, investigar o repertório imagético com que ele compõe sua vida, misturando-se ao imaginário social", diz a antropóloga e arte-educadora Ana Maria Alves de Souza, que está iniciando um estudo sobre a obra de Agostinho.
Dono de uma técnica que ainda merece um estudo aprofundado, tal é o seu encanto, o artista da Barra da Lagoa começa a emplacar seu trabalho nos quatro cantos do mundo globalizado, graças ao que tem de local e genuíno. Em setembro, um congresso nacional de vigilância sanitária que acontecerá no Centro Sul, em Florianópolis, irá usar o trabalho de Valdir como referência de cartazes e objetos de divulgação. Verdadeiro "escultor do papel", como se denomina ao realizar suas pandorgas, o multi-artista ainda encontra tempo para apresentar um programa de TV, onde entrevista quem lhe der na telha, desde que diga algo a sua sensibilidade de músico e artista plástico. Assim é Valdir Agostinho, que faz as coisas por amor - dá valor - e não só por dinheiro.

Na foto, Sofia e Raíssa, em show de Valdir (ao fundo) cerca de uns cinco anos atrás, na Barra da Lagoa - Florianópolis. Clique na foto para ampliar. (texto escrito em 2007).